segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entrevista: "Pinceladas das Esferas Zodiacais"


A seguir, temos uma “entrevista” realizadas pelo astrólogo Héctor Othon (autor do título desta matéria) com o diretor desta revista, Luís A. W. Salvi,* no mês de março de 2005, onde este explana a sua visão da astrologia e a formação como astro-filósofo.

HO. Fale de sua visão da Astrologia, e preencha-se de entusiasmo porque sinto que nas suas idéias existe sim um contato com a inteligência universal.
LAWS. Não sei se há maior interesse em aprofundar conceitos subjetivos –até porque esta é a tendência da astrologia simbólica e espiritual. Mas vamos lá. Em termos gerais: não cremos na influência de constelações –tudo se originaria no próprio espírito do homem, da sociedade ou de Deus, etc. Mas –e o que é importante–, isto em nada muda a praxis da Astrologia. Aliás, tampouco tento desacreditar da realidade do zodíaco trópico, apenas não aceito confundir as esferas, como parece acontecer amiúde. Para iniciar, na esfera sideral, inexiste esta mudança de signo inicial com o passar das eras (como querem fazer crer os cientistas e os orientais), justamente por não se tratar de uma esfera física vinculada à influência de constelações, e sim questões simbólicas para aludir à evolução do próprio planeta terra, cujos sábios usam o céu meramente a título de relógio cósmico –acaso um relógio é responsável pelo tempo? É claro que não... ele apenas assinala a evolução das horas O mesmo se passa com os diferentes zodíacos –ainda que sempre se possa aventar um acréscimo de energias mais físicas, como ocorre com as estações em relação ao zodíaco trópico, sem que isto substitua as energias subjetivas e de base matemáticas, por assim dizer.  

HO. O que são os signos para sua escola?
LAWS. O signo é um quantum de energia subjetiva existente na construção ordenada da consciência universal, análogo à evolução das estações do ano, por exemplo, com os quais eles de fato tem analogias (trabalho o tema em minha obra Astrologia Telúrica). Os adeptos das doutrinas construtivistas sabem do que se trata, assim como aqueles que trabalham com iniciações e outros ciclos espirituais ou subjetivos.

HO. Poderia também falar um pouco sobre o Sol, a Lua e os planetas?
LAWS. Quanto ao Sol, apreciamos a visão de Dane Rudhyar na obra O Sol também é uma Estrela, voltada para a Astrologia Galática, campo onde temos feito algumas incursões. No mais, é a nossa estrela-mãe, e uma referência vital para o trabalho solar da construção do espírito; além de ser um instrumento mental. A Lua é sua contraparte, associada à sensibilidade, instruindo sobre a dualidade cósmica vital no plano da Perfeição da Criação. Os planetas significam, para nós, símbolos das estações espirituais na harmonia cósmica, vinculados às iniciações humanas e hierárquicas.

HO. Poderia também falar um pouco sobre a associação a seres espirituais? Na sua visão, aceita-se que os planetas são estações de trabalho espiritual, comandadas por seres da hierarquia espiritual superior relacionada com o processo de encarnação de humanóides no planeta Terra?
LAWS. É uma pergunta de certa forma difícil, porque uma das formas de astrologia que mais respeitamos é justamente a esotérica, e não queremos dar a impressão de desejar concluir o diálogo com as estrelas também a este nível. Insisto, todavia, que o questionamento epistemológico de certos postulados –a nosso ver algo mal colocados pelos astrólogos–, não altera necessariamente a praxis da Astrologia, mas serve com certeza para requalificá-la, dando seriedade, profundidade e pureza, e permitindo afastar do fetiche e da superstição, por exemplo –dos quais o culto a “seres” superiores são uma expressão mais refinada. Porém, a fórmula-base hermética da astrologia, “assim como é em cima é em baixo”, em nada diz respeito a influências, mas somente a correspondências e analogias. O importante é compreender que tudo o que se diz a respeito a hierarquias permanece válido, ainda que, em nome de uma lógica científica mínima –pois descobri que cada visão-de-mundo costuma ter uma parcela de razão–, prefiramos desalojá-los das estrelas distantes para recolocá-los num tempo-espaço mais subjetivo –ainda que a Ciência terrena tampouco vá aceitar a isto. Seja como for, para nós o vínculo estelar/planetário segue válido como símbolo e alegoria. Aliás, a mística dos mundos distantes, para quaisquer efeitos, foi sempre cultuada na Revista Órion de Ciência Astrológica.

HO. Pode falar um pouco mais da “Esfera Sideral” e também das outras Esferas zodiacais?
LAWS. Nossa extinta mestra Emma C. de Mascheville trabalhava com três esferas. A “Esfera Sideral” é o grande Ano de Platão; o zodíaco trópico é a esfera associada às estações e ao ciclo anual, e o sistema de casas é a esfera de mutações diárias. Tudo isto depende e nasce unicamente da inclinação dada pelo ponto vernal. O ponto mais polêmico é o Ano Cósmico, ou o Sidéreo, em torno do qual se tecem as maiores absurdidades, a partir da confusão indevida entre astrologia e astrofísica que os próprios astrólogos alimentam.

HO. Você conhece o seu próprio mapa natal, usando o Zodíaco trópico como fundo, segundo é a leitura da Astrologia Ocidental?
LAWS. Com certeza, pois seguimos de início escolas tradicionais, embora sempre vinculadas à iniciação. Para a GFU, por exemplo, escola astrológica semi-cientifizante mas também iniciática, era proibitivo fazer horóscopos para terceiros –a Astrologia era vista como algo muito íntimo, não sendo possível alguém de fora fazer por nós este trabalho de cosmificação interna. E dona Emma tinha profundas abordagens esotéricas, como sua Doutrina de Luz e Sombra (que depois desenvolvemos à exaustão); e dizia não apreciar fazer horóscopos externos, era apenas o seu ganha-pão –coisa que nós mesmos tivemos que renunciar, antes de ter acesso a visões mais avançadas.

H.O. No meu trabalho cotidiano com interpretação de Mapa natal, sinto profundamente a grande utilidade que é ter acesso a uma leitura dele. Vejo o mapa também como mandala pessoal, e sou agraciado a cada intento de ler o mapa das potencialidades que ele oferece... Pesquiso através do astropsicodrama, dando corpo e voz aos planetas e sua situação na mandala,.. conseguindo assim manifestar as riquezas que tais símbolos vivos tem na compreensão da individualidade e as formas de administrar sua singularidade. Desde este ponto de vista sinto muito válido e útil a pesquisa sobre o mapa natal... que considero um dos fenômenos naturais mais fascinantes que existem... Para mim os posicionamentos planetários, definem “eus planetários” vivos e diferenciados que quando manifestados na proteção do rito teatral astrológico enriquecem o autoconhecimento... No site www.xamanismo.com.br tem um artigo sobre este trabalho que chamo de “Olimpo pessoal”. A sua forma de ver as funções planetárias na dinâmica da personalidade é diferente da tradicional? Você usa algum tipo de mapa natal?
LAWS. O Horóscopo pessoal é um calendário particular válido, de amplo proveito e com múltiplas funções. Com a evolução, vamos superando o maniqueísmo e empregando chaves mais universais, nos termos da astrologia esotérica que trabalha com formas geométricas, por exemplo. Nisto, damos valor aos ensaios de Dane Rudhyar –um dos maiores astrólogos simbolistas da modernidade–, na aproximação do horóscopo com a mandala (quiçá o yantra), usando como intermediário de aproximação o horóscopo-quadrado medieval.
Quanto mais se puder sistematizar o horóscopo, melhor será. Somente assim ele será um autêntico revelador de nossos ritmos, mais que uma simples foto de parede fixa e imutável. É claro que os trânsitos & progressões, entre outros, também são uma chave para isto, mas estamos falando de algo ainda mais harmonioso, que é a geometria cósmica.
Contudo, é importante também valorizar o horóscopo coletivo, que são os calendários tradicionais. São formas eficazes de explorar as dimensões da Alma. Vale lembrar que todo o horóscopo pessoal, é sempre uma fração extraída destes calendários maiores. Neste sentido, a qualidade da matriz também é importante no resultado de suas derivações –se se parte de um calendário solsticial ou equinocial, se está correto ou adulterado, se é autócne ou colonial, etc., etc. Os astrólogos raramente se questionam acerca da natureza e da idoneidade dos calendários a partir de onde fazem seus horóscopos, mas investigar as bases é uma questão de seriedade e sempre um trabalho fundamental.
Trabalhar com calendários é uma tendência natural da expansão da consciência (e por isto pode atuar de forma recíproca), denotando que a pessoa está integrada a um todo maior e buscando também uma harmonia social e planetária efetiva.
No campo social, por exemplo, temos alcançado a perfeição deste quadro através do resgate da tradição dos Cronocratores, pelo qual estamos podendo atualmente apresentar uma proposta de transformação sócio-cultural do país, sobre bases também astrológicas e tradicionais. E na esfera mundial, trabalhamos com o mistério das rondas (ou manvantaras) como uma nova revelação aberta –que também denominamos de o Relógio Cósmico.

HO. Por favor, você pode falar um pouco do conteúdo dos signos, e aproveite também para falar de seus regentes planetários, vocês usam os mesmos regentes da Astrologia individual ocidental: Marte para Áries, Vênus para Touro, etc?
LAWS. Aprecio analisar os signos como derivados da combinação 3x4, ou ritmos/elementos. Por si só explicam muito bem a natureza psíquica dos signos. Sobre regências, tenho uma inclinação pessoal pela astrologia clássica, dada a simetria que oferece. É verdade que a astrologia romana tinha doze regentes/deuses planetários –é claro que organizados em pares ou casais–, que é para onde aponta a visão esotérica de Alice A. Bailey.

HO. Tem sentido, na visão de vocês verem os signos como os canais ou “quantum de energia” básicos de manifestação da vida no planeta Terra?
LAWS. Sim, os signos são bases da manifestação universal, de fato, manifestação no sentido de exteriorização inclusive, simbolizado melhor que tudo pela correlação Ascendente/Personalidade.

HO. Vocês vêem os signos como as três dimensões dos 4 elementos: Fogo, Terra, Água e Ar?
LAWS. Sim, é como dissemos em resposta anterior. Está muito bem colocada a questão dos signos como estações na natureza triangular dos elementos, uma visão tipicamente esotérica, e que também vinculo com os meses e estações.

HO. Você conhece a associação que fiz dos signos ao ciclo sazonal no hemisfério sul?
LAWS. Desconheço o trabalho em questão, mas tenho muito interesse pelo tema. Mas o caminho é por aí mesmo: investir no contexto meridional! Se você aprecia a questão das Estações, então meus trabalhos sobre Geografia Sagrada também serão um prato cheio para você. Faz muito mais sentido, e é chegada a hora da libertação cultural completa ou possível. Aliás, você saberia dizer, qual aquela faixa do planeta onde as estações são exatamente iguais ou simétricas, merecendo ser por isto chamada de mandala (ou pirâmide) climática? Não por acaso, ali foram construídos as pirâmides e os zigurats, por aquelas sociedades que, pela primeira vez, souberam fazer da astrologia um instrumento civilizatório.

HO. Existe toda um conjunto de  entidades e seres espirituais nomeados pelas diferentes religiões e escolas espirituais. Em específico, a sua escola associa as energias planetárias a avatares, seres espirituais superiores responsáveis com o processo de encarnação de humanóides no planeta Terra? A pergunta é muito concreta, ainda que refira-se a conhecimentos superiores.
LAWS. Como divinos alquimistas, os seres superiores e os avatares ordenam e qualificam as energias planetárias nos melhores termos, tratando da matéria-prima psíquica pré-existente na Terra, em favor da evolução humana.

HO. A sua relação com as energias planetárias é canalizada através da função de seres espirituais superiores?
LAWS. Como disse, sempre tive vínculos com escolas de astrologia de teôr iniciático, e mais tarde me especializei no assunto, sempre pelo caminho da iniciação. No mais, o sentimento de assistência espiritual tem sido uma constante. Hoje enxergo todas as coisas, sem excessão, pela ótica da astrologia, assim como da transformação.

HO. Lamentavelmente até agora não conheci nenhuma colocação clara sobre a Esfera Sideral, você poderia colocar a visão da sua mestra Emma C. de Mascheville ao respeito. Ainda que já ouvi falar dela, não conheço seu trabalho. Vou tentar me informar via Internet, mas se você pudesse colocar algum texto, facilitaria.
LAWS. Dona Emma apresentava um tratamento especial sobre o Ano Cósmico, em termos de “Gran-Domus” ou sistema de casas sideral, pelo qual fornecia uma esclarecedora análise da História universal.* É claro que não é a única visão ou abordagem existente em torno do Sidéreo. Há muito lugar para pesquisa no campo da astronomia/mitologia, por exemplo, sendo a Revista Órion um campo fértil para explorações nesta área, ao investigar os vários pólos cósmicos, por exemplo, base para uma visão mais específica das coisas.

* Revista Órion CA, numero 13
** O assunto foi aborado na Revista Órion em sua edição nº 2, Primavera de 1994.

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